Manifesto sobre processos e praticas projetuais. O caso do estudo para o Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ.




Em primeiro lugar eu gostaria de parabenizar o Centro Acadêmico pela liderança no debate proposto por essa Assembléia. O que eu desejo como professora é que vocês saiam daqui muito mais do que Arquitetos e Urbanistas, que saiam como lideranças, como gente que pensa por si próprio, como cidadãos participativos dos tantos debates e processos necessários para um mundo cada vez mais democrático.

Em segundo me posiciono. Seria muito mais fácil e simples para mim ser a favor de coisas que não me dizem respeito. No entanto, me manifesto por acreditar que pertenço a esse processo, que em construção e que, ser ouvida é um direito, e que portanto valham as minhas, como as de qualquer um que acredita na palavra como ação.

Algumas considerações :
De que modo podemos marcar nossa presença no mundo ?
Que marcas queremos deixar ? Que relações pontuam nossas ações ?
Que cultura e que ténicas afetam nossos sentidos e os sentidos ofertados ao mundo ?
Ao tratar aqui do projeto em questäo, pergunto se seria apenas o projeto, objeto de questionamento ?

Aponto primeiramente o item de pauta sobre a localizaçäo e, para isso, considerei diversos níveis e dimensõe sobre o que isso poderia sucitar enquanto debate. Listo :
-       Debate sobre os planos diretores da Universidade em relação aos planos e planejamento urbano de SJDR e assim feito;
-       Amplo debate e definição conjunta sobre a localizaçäo do edificio do Curso (particularmente defendo a permanência no CTAN por diversas razões já analisadas, dentre as quais a de posicionamento crítico e de movimento pendular entre o centro e a borda cidade : a cidade é também o centro. Näo apenas o centro.)

Quanto ao projeto propriamente dito :
-       Necessidade de Interlocução entre os diversos usuários do projeto ;
-       Respostas que atendam à variadas demandas reais ;
-       Processo de construção das idéias ;
-       Revisão do programa e da distrubuição dos espaços .

Essa problematização, sobre quem se localiza onde nesse Território Educativo-Urbano em construção vem sendo pensado na relação entre a Cidade e a Natureza, entre o projeto e as soluções técnicas, entre soluções técnicas e Sustentabilidade, indo profundamente na questão dos impactos que a mineraçäo está deixando como legado ao Estado de Minas Gerais.

Seria essa a contribuição da Arquitetura e do Urbanismo ao se associar a questões predatórias do espaço ?

As arquiteturas de matal fazem parte da trajetória histórica da Arquitetura e de seus maiores ícones : Torre Eiffel , Feira Universal de 1900 em Paris, Mies Van Der Rohe na década de 50 nos EUA, No Brasil o primeiro edificio em Estrutura Metálica, o Avenida Central, do Mindlin para a AV. Rio Branco em 1961.
Seria essa  a técnica que nos posicionaria criticamente no século XXI ? Cito:

Com relação aos possíveis entendimentos da cidade como acumulação de ação-espaço-tempo Paul Virilio abre seu livro  L’ art à perte de vue (2005, p. 9), afirmando que se o século XVII foi da matemática, o XVIII pertenceu às ciências físicas e o XIX à biologia. Com relação ao tempo e as tantas definições apresentadas sobre o século XX, Virilio enfatiza uma delas, que seria a sensibilidade do presente relacionada ao medo. E que em seu ápice ele, o medo, não poderia ser compreendido como uma ciência, mas como uma técnica que teria se tornado também em arte contemporânea, de destruição mutua, também por seu entendimento como cultura dominante. (Nascimento, 2011, tradução minha).

Tenho as minhas dúvidas com relação às técnicas escolhidas para este projeto, face a uma profusäo de soluções que consideram desde as vernaculares até as mistas, sem deixar de se colocar na contemporaneidade.

Ao pensar sobre esse curso, assim denominado e não Escola, penso nele como uma segunda casa, sobretudo para os que chegam à UFSJ com diferentes históricos de vida e os posiciono face a um amplo leque de questões que vão do local ao mundial. Que imagem é essa que nos representa? Que relações entre escalas se colocam no e através do projeto ?

Entendo que essa não é uma decisão simples, nem fácil de ser tomada, e nem espero que seja. 

Simplicidade näo corresponde à complexidade da coisa e muito menos aos processos, que para serem democráticos exigem profundos debates e tempos que o permitam.

Entendo ainda que a melhor decisão e escolha de caminhos é aquela que for tomada e envolvida pela maior gama possível da comunidade e por diferentes atores, coletivamente.

Continuando o debate: carta lida na Reunião de Departamento em 14 de Julho de 2014.


Qual o sentido de um Curso de Arquitetura e Urbanismo nos dias atuais ?



De que modo a participação do arquiteto e urbanista pode ser absorvida pela sociedade ? No caso de um curso público e federal, qual sua real contribuição para a Universidade e ainda para a cidade onde se localiza ?
Perguntas complexas  exigem respostas à altura, assim como através de contribuições multiplas e, portanto, sem respostas rápidas.

Dentre as bibliografias atuais estudadas e praticadas sobre Planejamento Urbano e Regional, no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ, vimos aprofundando os debates sobre o Direito à Cidade associada à questões como a de localização e a de centralidade em SJDR, associadas à críticas contemporâneas e a noções como sustentabilidade e diversidade. Não se trata aqui de um mero descarte do eu x outro. Trata-se de uma elaboração que inclua e envolva racionalidades outras, pois a entendo como debate epistemológico, que inclui práticas e processos tão caros às áreas Sociais Aplicadas.

Consideramos a abordagem da cidade compacta extremamente relevante. No entanto, no caso da cidade de SJDR, me parce contraditório ao sobrepormos outras categorias e metodologias analítico-propositivas, multidisciplinares como a da localização e a de centralidade, associada à preservação patrimonial. Esse acúmulo considera a soma de poder simbólico (Bourdieu, Castells), a exaltação do city marketing  (sociedade do espetaculo - Debord, Jacques, Jeudy, Fernandes) associado a usos instrumentais que descartam práticas e processos existentes, ressaltando e reiterando noções como a da geografia econômica no sentido de contribuir para e com o mercado imobiliário e não para a sua regulação.

Assim,  entendo que sozinha a categoria de cidade compacta descarta possibilidades de construirmos metodologias adequadas tanto para um Curso novo, quanto relacionada às possibilidades do momento, face aos processos de elaboração de políticas e projetos reais e públicos, locais.

Planos Diretores

Desde minha chegada à Universidade e passagem pelos Conselhos de Preservação do Patrimônio e Universitário estive atenta aos poucos debates públicos sobre os tais planos, sua real e efetiva relação com a cidade. Impossível não relacionar expansão universitária e mercado imobiliário.

Há muita a ser feito e, sobretudo, corrigido em cada um deles. Alguns mais, outros menos, tanto internamente quanto em relação aos seus entornos. Há equívocos de toda natureza, desde implantação, programa e qualidade espacial dos projetos. Uma caminhada pelos campi universitário e temos uma aula a não ser seguida. Qual a relevância de um curso de Arquitetura e Urbanismo numa Universidade que pouco o considera? De que modo podemos ampliar nossa contribuição, nesse sentido ? Com um prédio? Críticas deveriam apreendidas como necessariamente construtivas. Questionar não significa descartar.

Quanto aos Projetos

Ainda que teoricamente, apresentei algumas vezes aos integrantes do Curso, uma proposta de projeto que tentava alinhavar conceitualmente debates sobre o que o curso de Arquitetura e Urbanismo pode. E, entendo, pode muito. Num primeiro momento com a sigla de NADA, e numa versão posterior mais ampliada, com a denominação de CIRANDA, procurava articular estruturalmente uma base de dados urbanos à colaboração multidisciplinar e, assim um projeto de Curso de Arquitetura e Urbanismo que contemplasse o PPC existente associada a revisões indispensáveis para o seu avanço assimilando projetos, contribuições e experiências pessoais de cada um de seus integrantes. Tarefa complexa e lenta em meu entendimento.

Mesmo apresentando aos meus pares nunca fui procurada para debatê-lo, mesmo que fosse para refutá-lo.
Assim, quanto a existência de outros projetos, entendo a teoria como tal. E assim, temos mais do que um. Inclusive que pensa a construção do conhecimento contemplando a participção. Se opondo aos ritmos velozes e atropeladores de possibilidade inclusivas, incluindo grande parte dos programas do atual governo, e portanto fora daquilo que entendo como Debate Político, pois alicerçado na aceleração – vide carta do DECIS sobre os processos de expansão da Universidade.

Como Universidade Pública e Federal entendo que o lugar que temos posse nos garante questionamentos e alternativas àquilo que destrói conflitos, simplesmente por negá-los e nem sequer debatê-los.

Simultaneamente a esse processo crítico, vim analisando algumas estruturas relacionadas às questões de gestão e de políticas públicas, avaliando de que modo poderíamos como curso nos apropriar e ocupar a cidade, sem necessariamente estarmos no centro (isso realizado em estúdios que procuraram sempre articular pesquisa-ensino-extensão e multidisciplinarmente).

Assim, noções como a de apropriação, reaproveitamento e renovação de usos e lugares sempre tiveram relevância em nossas abordagens sobre a cidade, assim como entendimentos que poderiam alicerçar outros debates e trocas de conhecimento, sobretudo entre campos disciplinares.

O projeto tem como proposta a tentativa, no sentido de conseguirmos compreender as aberturas possíveis que um curso novo possibilita à partir de uma conceituação que abranja a todos os seus integrantes e colaboradores, sem os quais se não interagimos, tão pouco avançamos.

Sobre participação

Não se trata apenas de uma categoria aleatória. Este é o desafio para o século XXI. Se o subestimamos ou consideramos tarefa inexequível ou utópica, qual a nossa contribuição crítica e prática face sua aplicação social ? Não acreditar nela significa matá-la, antes mesmo que possa nascer.
Metodologia adequada é aquela criada de acordo com os desafios locais. Em SJDR os desafios são muitos e em processo. Assim, o estabelecimento de diretrizes que orientem as reais e múltiplas possibilidades práticas se torna indispensável.


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