Viver em comum

Creio que a primeira experiência de viver em comum seja durante o "estado interessante". Para aqueles que nunca ouviram falar dessa expressão, diz respeito ao tempo de gestação e de maternidade.
O fato é que o feto não se lembra de como é esse processo de adaptação de dois corpos em um. E mesmo a mãe até os cinco meses mais ou menos também ainda não o percebe como ser vivo dentro dela.
A partir deste período as coisas mudam... e o bebê passa a fazer parte, de modo mais evidente - pois seus movimentos já podem ser sentidos pela mãe dadas as suas proporções -, ao processo de vida comum, e de como a presença de um dentro do outro altera tudo, de simples gestos a movimentos de corpo mais complexos, agora mais contidos na mãe e também no bebê em função de uma nova realidade, que se altera diariamente!
Para a mãe é um processo que se transforma ao longo dos 9 sábios meses que a natureza nos concede para que nos tornemos mais conscientes do que é que vai ocorrer.
O primeiro filho então, falando de minha experiência iniciante, é ainda maior. As descobertas são inúmeras e a relação com nossa própria história se torna uma constante.
Das coisas que mais me vêm a tona são as memórias que tenho com aquelas que foram essenciais para a minha própria existência e que já não estão mais aqui: minha mãe e minha avó.
Mas o que eu queria dizer hoje com esse texto, já em meu 7 mês e meio de gestação é sobre esse comum, sobre o sentido de comunidade, onde a existência do outro está diretamente ligada à nossa e dessa primeira experiência consciente de viver junto.
O bebê que se torna adulto pode até sentir essa íntima relação da experiência vivida dentro do outro - da mãe -, mas saber isso só sendo mãe...
Penso, até pelas coisas que tenho visto a respeito da própria gestação e do parto, sobre o primeiro momento de ruptura desta relação, pois ao mesmo tempo em que "se-para", une por laços afetivos, com cuidados com o outro. Isso em condições normais de temperatura e pressão...
Mas como viver em comum e em sociedade hoje em dia, levando em conta modos de vida que deixam cada vez mais de lado essa experiência humana de vivenciar cada fase com mais amor e cuidado, com aquilo que se gera dentro e de dentro prá fora?

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